Um “terceiro tempo” para o jornalismo

Facebooktwitterredditpinterestlinkedinmail

Dois grandes acontecimentos colocaram à prova o jornalismo contemporâneo. Mas tivemos o tempo e o compromisso para pararmos e refletir sobre o que aconteceu? A pandemia e a guerra foram os ímãs que, pelo seu enorme alcance, atraíram os espaços de informação, renovaram as linguagens e deformaram todas as “liturgias” televisivas. Outro elemento – o digital – corroeu os “costumes” da reportagem jornalística televisiva. Estúdios desertos com liberação de conexões de webcam: do estúdio, da casa, e até do próprio carro. Concertos sem público. Debates com especialistas e seus opositores. Noticiários (ou programas) realizados na casa do apresentador. O smart working também para o trabalho jornalístico. Perguntas, muitas. E não outras tantas respostas para compartilhar. Voltemos ao que aconteceu entre o final de 2019 e o início de 2020. Um inimigo invisível, como a sacudida de um terremoto, atravessou todas as estratificações sociais. Um choque que, como sabemos, não apagou, mas acabou por restaurar e acentuar as desigualdades.

E assim a televisão, por definição, a tela das “imagens” viu-se narrando as consequências de um vírus sem nome e sem rosto. Posteriormente, chegamos à escolha do acrônimo “COVID-19” e da imagem de uma coroa diante da necessidade de representá-lo. A entrega do mundo jornalístico aos especialistas, os tempos urgentes diante das atualizações, notícias de medições contínuas, a atualização sobre o progresso da ciência e a disponibilidade de vacinas e as consequências econômicas e sociais da crise. Um limite frente ao papel conquistado pela primeiríssima televisão, nos seus inícios, de estar em grau, sobretudo para fornecer respostas?

O segundo evento diz respeito à invasão russa na Ucrânia, com a chegada de uma nova guerra na Europa. “Se, há cerca de trinta anos, a do Golfo foi a primeira “ao vivo na TV” e frequentemente é lembrada com a imagem fixa de um visualizador noturno com o céu recortado por pinceladas luminosas, é ainda mais oportuno refletir hoje sobre a “guerra na mídia” e a “mídia na guerra”.

As mídias sociais têm sido utilizadas como um canal alternativo e direto de informação. Infelizmente, também abrindo espaço para comunicados alternativos e, por meio do encaixe de like e compartilhamentos nas redes sociais, ampliando a disseminação de fake news.

Mas como o mundo do jornalismo mudou diante de tais evidências? Relanço uma ideia. Passado o “primeiro tempo” da produção de uma reportagem, e o “segundo” se por ele entendermos a sua emissão e difusão, relanço a ideia de um “terceiro tempo da informação”.

Ouvir, discutir e refletir e assim iniciar um processo circular virtuoso que insere essas considerações na produção de novos serviços. Olhando para o exterior, um laboratório com contaminações de linguagens e experiências através das diretrizes do encontro e da escuta.

Em um período histórico em que o número de telas digitais ultrapassou o da televisão, o digital também se envolveu no conflito.

À dor pelas consequências do conflito, imerso no mundo digital, resta a consideração do poder que é dado ou retirado. Uma medida aplicada com diferentes graus de julgamento e na qual a autoridade, embora motivada, também é atribuída às faculdades de empresas individuais. E através da web, que, uma vez superada a fronteira da Ucrânia, foi possível manter contato com aqueles que lá ficaram e ter notícias do que está acontecendo, fazendo os primeiros passos na busca de seu próprio futuro, uma vez superado o confim. Reler hoje o texto da Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, divulgado em 24 de janeiro de 2022 por ocasião de São Francisco de Sales, é um exercício de ver aplicada a busca pela escuta “com o ouvido do coração” nos eventos que talvez tenham mudado, ou pelo menos renovado o trabalho jornalístico. Colocados à prova e, quiçá, confrontados com o pedido de atualizações contínuas, também possibilitadas pelo digital, em busca de um respiro num possível “terceiro tempo”.

Fabio Bolzetta

Presidente da Associação Católica Italiana de Webmasters (WECA)
e jornalista correspondente da TV2000


Allegati