Desçamos do monte da Luz transfigurante para retomar a nossa viagem. O terceiro domingo da quaresma nos leva à Samaria e. mais precisamente. a Sicar, vizinha do monte Garizim, no coração da Palestina. Jesus para, cansado e com sede, junto ao poço daqueles que buscam água incansavelmente. Uma mulher, uma samaritana, procura o amor sem limites. Não sabe que a fonte de tal desejo não pertence ao poço conhecido há muito tempo, facilmente atingível, aberto a todos. Não se encontra nem mesmo no poço da Lei, ou na perspectiva restrita de confusa religiosidade, mas no inesperado encontro com Aquele que possui a Água viva do Espírito. Uma Água sempre fresca que, correndo, cria, transfigura e vivifica.
O longo diálogo entre a mulher desconhecida e Jesus atinge o ápice quando a samaritana toca o aspecto religioso da vida: “Onde adorar a Deus?”. Eis o mistério de todos os tempos: a busca de um lugar para o culto, da segurança espiritual, do “onde” relacionar-se com Deus. Busca que pode se tornar uma sutil tentação de possuir Deus! Dar a Deus um lugar fixo, para poder aprisioná-lo entre as barreiras religiosas de estranhas ideologias sem consistência, é um sério perigo para a vida de muitos. E por isso a mulher samaritana é ativa participante de uma das maiores revelações de Jesus sobre Deus: «Mulher, é chegada a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e verdade ” Deus é Espírito”» (Jo 4,23-24). É chegada a hora de adorar a Deus no Senhor Jesus: é ele o templo, o monte onde adorar a Deus. Jesus é a Verdade fiel na qual podemos entrar somente pela graça do Espírito. Se Jesus é o lugar onde adorar o Pai, o Espírito é o lugar onde adorar Jesus.
O termo “espírito”, traduzido pelo grego pneuma e pelo hebraico ruah, elimina qualquer ilusão humana de possuir Deus apenas “através de conceitos”: porque biblicamente “espírito” quer dizer “murmúrio”, “respiro”, “infinito sem limites”, “vento” que atravessa a imensidão sem ser visto, nem limitado. O Espírito sopra onde quer e não se sabe de onde vem nem para onde vai, no máximo se ouve sua voz que, silenciosamente, se esconde na fonte viva de uma Palavra eterna.