Tudo aconteceu perto do Monte das Oliveiras, a cerca de três quilômetros de Jerusalém. A pequena família de Betânia muitas vezes acolheu Jesus cansado e fatigado das longas viagens para fazê-lo repousar no perfumado bálsamo da amizade. Um profundo amor ligava Jesus a Lázaro, Marta e a Maria. Jesus, para eles, era o Mestre, o Amigo único, a Verdade sempre esperada, o Sentido mesmo da vida, e os irmãos de Betânia eram para ele os discípulos amados, a família íntima, nascida do seio da Palavra acolhida. Em Betânia, Jesus se sente em casa: escutado, amado, acolhido e recebido também quando seus passos se dirigem decididamente para Jerusalém.
Mas como em todas as belas coisas, chega também o dia da escuridão, do sofrimento e da morte. A amizade é colocada à prova pela aflição derivada da doença e a consequente morte de Lázaro, pessoa amada (Betania, Bēt-ʹanyā, em hebraico “casa da aflição”). Mas os aflitos serão consolados …
É justamente aqui que Jesus revela o ponto mais alto de sua identidade: «Eu sou a Ressurreição» (do substantivo grego anastasis, que por sua vez vem do verbo anistēmi: elevar, mandar para cima, subir, fazer sair, fazer ressurgir). Na prova e na dor, todos somos chamados a um êxodo sem retorno. Um sair de nós mesmos para ir ao encontro de Jesus, que consegue sustentar o coração que chora. Marta sai de sua segurança e vai generosamente ao encontro de seu Senhor; Maria vence as insuficientes consolações dos judeus que procuram, em vão, detê-la em responder depressa à voz amada do Mestre; enfim Lázaro, reanimado por aquele grito que expulsou as trevas, sai do sepulcro da não-esperança.
Como é que Jesus, antes de ressuscitar se revela Ressurreição? Por que esta última revelação lhe custará a vida? Jesus coloca sobre a palavra ressurreição o sigilo do seu amor, a fim de que com Marta, Maria e Lázaro pudéssemos também nós crer que, amando-nos, ele nos retira do sepulcro do não sentido, do vazio e do desespero. Amados por Jesus e amando como ele, vivemos a ressurreição de uma vida-sem-fim já, aqui e agora. Toda pessoa passa da morte à vida escutando e vivendo a divina Palavra que gera, no cotidiano da vida, a Betânia da eterna amizade, onde cada um pode escutar a voz do Mestre que diz:: “Eu te amo, tu não morrerás!”.