Fé como escuta

Francesca Pratillo, fsp

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Paulo de Tarso, dirigindo-se à comunidade dos romanos, afirma com decisão e extrema clareza, que «a fé vem pela escuta e pela escuta da Palavra de Cristo» (Rm 10,17).

Para todos é evidente que na era digital o primado é o dos olhos, da visão, da imagem veloz em relação a tudo aquilo que pode ser escutado. Enquanto no mundo da Bíblia o acento é colocado totalmente sobre a escuta lenta e atenta da Palavra: «Escuta, Israel…» (Dt 6,4).

Na perícope paulina emergem três elementos que podem contribuir para o crescimento da fé da comunidade paulina no mundo: o testemunho que anuncia, a pessoa que escuta, a Palavra que salva. Trata-se de uma corrente relacional, de onde corre a água transparente da fé.

Para encontrar a Palavra é indispensável entrar em contato com um testemunho que já tenha percorrido o caminho da fé. A presença necessária do testemunho (cf. 1Jo 1,1-4) revela uma verdade antropológica profundíssima e uma teológica fundamental. A primeira se refere à pessoa que nasce, cresce e se desenvolve apenas na escuta. A pessoa é, por definição, encontro, sujeito de relações, estrutura de comunhão.

Hoje, ninguém ensina que “presentear com a escuta” é o gesto mais refinado do amor. É comum a muitos a convicção de que falar é sempre mais urgente que escutar. No entanto, o eu se forma mediante o tu; nasce da escuta e pode viver apenas em um tecido relacional fecundo. A verdade teológica, naturalmente, brota da primeira, porque Deus mesmo é a Palavra viva. Na mentalidade hebraica a Palavra se manifesta não apenas como revelação, mas como potência que chama à existência as coisas que não são, para a fé, a relação. Deus, o irmão e a irmã que encontramos, a história e a nossa vida mesmo tem necessidade de silêncio e de escuta profunda para poder se “revelar” progressivamente. Apenas a Palavra anunciada por um testemunho credível, escutada por um coração aberto pode chamar à existência a nossa fé. Crer é entrar, mediante a Palavra, em comunhão com Deus, e é fruto da ação atraente do Pai, da mediação reveladora do Filho, do sopro iluminador do Espírito.

O crente é o ouvinte da Palavra de Cristo, de cuja escuta procede a fé. Escutar Jesus é a verdadeira vocação do cristão: «Este é o meu Filho, o amado, escutai-o!» (Lc 9,35). Não é só importante escutar Jesus, mas é indispensável ser introduzido pelo Espírito na forma de escutar Jesus.

A escuta de Jesus é uma verdadeira e profunda participação ao sofrimento e as esperanças da humanidade, atingindo a meta mais alta justamente na cruz, lá onde a escuta se tornou obediência e total dom pela vida do mundo (cf. Fil 2,5-11). Para escutar significa acolher as pessoas e oferecer-lhes quanto “ouviu” do Pai, isto é, o amor que liberta e salva, conforta e dá força.

A escuta de Jesus se torna para a Igreja de todo tempo um indispensável critério de discernimento para ler eventos e situações à luz da fé nas inevitáveis


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