70 páginas endereçadas aos Padres sinodais que do mundo todo, são convidados pelo Papa Francisco a refletir sobre o compromisso “por nada facultativo” de acompanhar cada jovem, nenhum excluso, rumo a alegria do amor; e redescobrir de que modo a Igreja pode ser alma, luz, sol e fermento no mundo. O Instrumento de Trabalho da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, sobre o tema: ”Os jovens, a fé e o discernimento vocacional“, que se realizará de 03 a 28 de outubro 2018, foi apresentado no dia 19 de junho na Sala da Imprensa da Santa Se.1
Duas equipes ajudaram os Secretários particulares do Sínodo, Pe. Rossano Sala, salesiano e Pe. Giacomo Costa, jesuíta, na coleta de dados. As respostas dos jovens aos questionários foram atentamente avaliadas e a transcrição das respostas às perguntas abertas do questionário preencheram mais de 10 mil páginas!
Renato Cursi, secretário do Dicastério para a Pastoral juvenil dos salesianos de Dom Bosco, que coordenou os dados provenientes dos questionários compilados pelos jovens do mundo todo, na primeira fase de preparação ao Sínodo, releva que “os dados traçam um perfil de jovens que foge dos lugares comuns, dos preconceitos e estereótipos que os consideram “simplórios, vazios, insignificantes”. Emerge nos questionários um cenário de jovens inseguros, incompreendidos e descrentes mas, ao mesmo tempo, sedentos e exigentes.
Inseguros porque não se sentem acolhidos pelo mundo dos adultos, incompreendidos nas coisas que para eles são importantes, e pedem de estar ao lado de adultos autênticos, capazes de relações sadias. Desejam comunidades cristãs próximas, uma Igreja coerente e próxima, que os acolha sem julgamentos, envolvendo-os no diálogo com o mundo também a respeito das temáticas do presente: homossexualidade, matrimônio entre pessoas do mesmo sexo, papel da mulher. Querem não só ser protagonistas, mas participantes da vida”.
O Instrumento de Trabalho2 redigido de acordo com o método do discernimento, tema do Sínodo e ao mesmo tempo método da Assembleia sinodal, apresenta não só aos Bispos, mas a todos os que se interessam pelos jovens e desejam ter um “instrumento” para trabalhar. Traz alguns direcionamentos precisos. Está articulado em três partes distintas, com os verbos:
– reconhecer, para “participar do olhar de Deus sobre a realidade, atentos ao modo como Deus nos fala através dela”;
– interpretar, para ir fundo no nível bíblico e antropológico, teológico e eclesiológico, pedagógico e espiritual. As ideias iluminam, esclarecem, dissolvem os nós, ajudam a desvendar o emaranhado, a superar a confusão e a corrigir as fragmentações, seguindo rumo a uma visão integral e harmônica;
– escolher, para tomar decisões corajosas e abertas ao futuro, à luz do caminho feito, para levar a cumprimento o caminho através de escolhas partilhadas que ajudem no itinerário de conversão pastoral e missionária.
A primeira parte traz um amplo olhar sobre os “jovens” do mundo, nas diferenças e convergências dos contextos culturais, definidos com três “lentes de aumento”:
– os jovens pobres e abandonados, que são continuamente rejeitados por um mundo que se autocompreende a partir do paradigma do descartável, que “compra, usa e joga fora”;
– os seis desafios “antropológicos e culturais”: os decorrentes antropológicos do mundo digital, que impõe nova compreensão do tempo, do espaço e das relações humanas; a nova compreensão do corpo, da afetividade e da sexualidade; o advento de novos paradigmas cognitivos que veiculam uma abordagem diversa da verdade; a generalizada desilusão institucional em âmbito civil e eclesial; a paralisia decisória que aprisiona as jovens gerações em percursos limitados e limitantes; a nostalgia e a busca espiritual dos jovens, que parecem menos ‘religiosos’, mas mais abertos às autênticas experiências de transcendência;.
– a escuta do que eles pedem: coerência, autenticidade, espiritualidade, uma renovada capacidade relacional e dinâmica de acolhimento profético; escuta do que pedem: liturgia viva e animada, empenho abnegado pela justiça no mundo.
Um “instrumento” de trabalho que interpela e inquieta, que indica caminhos de “conversão pastoral”, para definir o rosto de uma Igreja regenerativa em relação aos jovens, que faz do discernimento o seu modo de proceder habitual e o seu estilo inconfundível que se confronta com o cotidiano de sua vida, que escolhe ficar lá onde eles estão e que, sobretudo, se abstém “de culpar os jovens pelo seu afastamento da Igreja” ou de lamentar-se, “como, fazem algumas Conferências Episcopais, de uma ‘Igreja distante dos jovens’, chamada a empreender caminhos de conversão, sem fazer recair sobre outros as próprias faltas de empenho educativo e de timidez apostólica.” (174).
Papa Francisco, na carta de convocação do Sínodo sobre os jovens, diz que queria ouvi-los porque “os jovens dizem à Igreja o que hoje ‘diria’ Jesus”. Então, vemos que o instrumento operacional insiste em algumas palavras:
– discernimento como tema e como método de enfrentar a realidade, não como análise sociológica, mas com olhar de discípulo, perscrutando os passos e os vestígios da passagem do Senhor. É necessário deixar-se interpelar pelas suas inquietações, mesmo quando colocam em questão a prática da Igreja ou se referem a questões complexas como a sexualidade.
– acompanhamento, são chamados a se tornarem autênticos acompanhadores: pais, psicólogos, professores, formadores, educadores, treinadores e basicamente a comunidade cristã como um todo. Os próprios jovens indicam as qualidades que um bom acompanhador deve possuir, partindo do conhecimento de suas próprias fragilidades ser testemunho de confiança e esperança e não um juiz severo ou alguém tentando impor modelos preconcebidos.
– mudança, realizar, isto é, fazer escolhas de mudança dentro de um horizonte de vitalidade espiritual, na prospectiva de uma Igreja em saída, sem ambição e preocupação de ocupar o centro; repensando a questão vocacional no seu conjunto, pois uma das grandes fraquezas da pastoral de hoje reside em pensar a “vocação”, numa visão estreita, que considera somente as vocações ao ministério e à vida consagrada e retomando a ação educativa e pastoral, que interpela a comunidade cristã a rever a organização e a animação da pastoral a partir de sua “conversão institucional” que se refere ao modo de viver e trabalhar juntos.
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1 Os textos da Sala da Imprensa de 19 de junho 2018 podem ser consultados online em: https://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2018/06/19/0457/00986.html#sala ou fazer download no formato PDF em: https://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2018/06/19/0457/00986.pdf.
2 O texto do Instrumento de Trabalho pode ser descarregado no formato pdf em: https://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2018/06/19/0458/00978.pdf ou consultar online em: https://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2018/06/19/0458/00978.pdf.