Superiora Geral – Quaresma 2010

Facebooktwitterredditpinterestlinkedinmail
Quaresma  2010
Caríssimas Irmãs e Jovens em formação,
já às portas da Santa Quaresma, dirijo-me a vocês daqui da África, onde, junto com Ir. Anna Maria Parenzan e ir Anna Caiazza, estamos realizando a visita fraterna nas nossas comunidades da delegação da África oriental.
Preparamo-nos para viver, com todo o povo de Deus, a Quaresma, um tempo litúrgico privilegiado, que, como afirmou o Papa Bento XVI, «nos desafia a dar um impulso decidido à nossa existência cristã. Isso porque, os trabalhos, os afazeres e as preocupações nos fazem cair na rotina, expondo-nos ao risco de esquecer a extraordinária aventura na qual Jesus nos envolveu. Por isso, temos necessidade, cada dia, de retomar o nosso exigente itinerário de vida evangélica, entrando em nós mesmas mediante pausas restauradoras do espírito”.
A grande Quaresma é, portanto, ocasião propícia para percorrer espiritualmente a “parábola da vida cristã”, na qual se renova, no tempo, o mistério de Cristo Mestre, morto e ressuscitado para a salvação da humanidade.

Quaresma, tempo para retornar a Deus
No início do caminho quaresmal, o rito da imposição das cinzas, com os gestos simples, mas profundos, que o acompanham, oferece-nos a oportunidade de recordar a fragilidade da nossa natureza de criatura: “Lembra-te que és pó, e em pó hás de voltar”. Neste ano, essas palavras que a Igreja dirige a cada cristão, trazem à nossa mente também as imagens, transmitidas pela mídia de todo o mundo, da dramática realidade do devastador terremoto ocorrido no Haiti. Nuvens de poeira se elevaram dos escombros, e o próprio céu se transformou em uma grande nuvem de poeira, deixando sobre a terra o seu rastro de destruição e de morte de milhares de pessoas.
Também este trágico acontecimento, que manifestou não apenas a precariedade da vida, mas também a plena solidariedade ao próximo que sofre, restitui as verdadeiras coordenadas espirituais para onde orientar a existência terrena: o primado de Deus na nossa vida que, por meio da adesão à fé no Messias humilde e sofredor, projeta uma luz de esperança sobre os acontecimentos dos nossos dias.
O convite Quaresmal para empreender um caminho de conversão e de renovação interior, sustentado pela fé, pede-nos a busca de caminhos individuais e comunitários de volta para Deus, aquele que é o princípio e o ápice de nosso peregrinar terreno.
Com grande intensidade e profundidade, Dom Alberione condensou, em poucas linhas, aquilo que é o sentido da existência humana: “Saído das mãos de Deus para glorificá-lo na eternidade, o homem deve fazer uma viagem de prova que se chama vida. O próprio Pai enviou seu Filho, Mestre, para indicar, percorrer, fazer-se veículo do homem; onde o homem, no final, será julgado em conformidade com o Filho, na mente, na vontade, na vida” (Donec Formetur 35).
A viagem de prova, metáfora da vida humana, encarna a experiência do cotidiano, no qual, na multiplicidade das presenças e dos encontros, nos revela, nos torna próximo e nos esconde o rosto de Deus, um rosto sofrido e, ao mesmo tempo, o rosto do Ressuscitado (cf Ripartire da Cristo 23).
No tempo da Quaresma, em particular, fazemos uma viagem interior que chamamos de conversão, para indicar o caminho constante de purificação assinalado pela lógica evangélica da cruz, que envolve toda a existência; mas que é, também, iluminado por um futuro de ressurreição. Sob a orientação do Espírito, dia após dia, podemos crescer, mudar, porque nunca é tarde demais para empenhar-nos em sermos pessoas cristoformes, prolongamento na história de uma especial presença do Senhor ressuscitado (cf Vita Consecrata 19), como São Paulo que, tomado pelo amor de Cristo (Fl 3,12), tornou-se instrumento de salvação para muitos.
Para viver o caminho de contínua conversão, como lembrou o cardeal Carlo M. Martini, é indispensável confrontar, com as exigências do primado de Deus, tudo aquilo que somos e que fazemos, porque só o Senhor é a medida do que é verdadeiro, do que é justo e do bem. É preciso voltar à verdade de nós mesmas, renunciando a fazer-nos medida de tudo, para reconhecer que somente Ele é a medida que não passa, a âncora que dá fundamento, a razão última para viver, amar, morrer.
A vida do Primeiro Mestre, “‘tocada’ pela mão de Deus, alcançada por sua voz, sustentada por sua graça” (Vita Consecrata 40), testemunha o primado de Deus e atesta a sua prioridade sobre todas as coisas. No seu ardor apostólico encontra a manifestação do “Viver Deus! E dar Deus!” (Ut perfectus sit homo Dei, IV, pp. 278). Tudo é permeado pela luz interior que havia iluminado o jovem Alberione na “noite que dividiu os séculos” e se tornou fonte devoradora que acendeu seu coração de paixão por Deus e pela humanidade. “Não é possível que uma pessoa cheia de amor a Deus, escrevia o Bem-aventurado Alberione, possa conter tudo em si mesma. Quando a concha está cheia e continua a receber água, necessariamente transborda, e tanto mais transborda, quanto mais água recebe” (Vademecum n. 953).
Ao longo da peregrinação quaresmal que fazemos junto com o Mestre, nós também reafirmamos nosso empenho de renovação e de adesão ao Deus vivo e verdadeiro, à luz da Palavra de Deus, para favorecer uma qualidade de vida comunitária e apostólica, que será tanto mais eficaz quanto mais for coerente com os valores do amor, da verdade e da justiça.
Então seremos verdadeiramente luz que ilumina o mundo e, como recentemente nos recordava o padre Bartolomeu Sorge sj, “não importa se somos poucas, porque mil velas apagadas nunca acenderão uma vela apagada, mas uma só vela acesa pode acender milhares!”.
Reavivemos, portanto, a esperança, porque a Quaresma nos abre à alegria intensa da Ressurreição, na qual Deus, o Vivente, está sempre conosco.
Caríssimas, com frequência nosso pensamento e nossa oração voltam-se para a população do Haiti, e quero agradecê-las pela intensa participação de orações, em particular no dia 5 de fevereiro, na memória do nascimento para o céu de Mestra Tecla.
Durante a Quaresma, além de continuar rezando, convido-as a fazer um gesto de ajuda e solidariedade em favor dos sobreviventes do terremoto, oferecendo um contributo econômico, a ser enviado ao economato geral, ou através das organizações locais.
Desejo-lhes a vivência de um fecundo caminho quaresmal e lhes peço uma oração especial pela visita fraterna, em andamento, no Continente da esperança.
Com muito afeto.
ir. M. Antonieta Bruscato
superiora geral

Allegati