TU, QUEM ÉS?
Perguntaram a João Batista: “Tu, quem és?” e ele responde três vezes: “Eu não sou”. Esplêndido! Nós somos o que não somos.
O risco é o de acreditar de ser o que pensamos ou o que os outros pensam – ou querem – que sejamos. Chegar a definir para além de nossos nomes, de nossas ilusões de onipotência, de nossos sonhos, de nossas frustrações e de todas as expectativas colocadas em nós pelos outros, é finalmente chegar à verdade de si mesmo.
João é simplesmente a testemunha, chamada a fazer brilhar diante de si uma luz ‘diferente’. De fato, ele não é ‘a luz’. Desconfiemos sempre daqueles que se julgam ‘iluminados’. É o germe de toda ditadura.
A testemunha é aquela que é chamada a deixar brilhar uma “outra” luz, não a sua. Por isso João define-se simplesmente como uma ‘voz’. Não diz: “eu sou a Palavra”, mas eu sou a ‘voz’, através da qual a Palavra pode ser dita. Ele está a serviço da Palavra.
A voz sem palavra é ‘sem sentido’. A Palavra sem a voz é ‘muda’. O Batista se define: Voz que grita a Palavra, ou o Evangelho. João, como os profetas de todos os tempos, tem a tarefa de despertar as consciências, que gritam que não podemos nos resignar à injustiça, que é necessário optar por soluções que estejam em grau de ajudar a sair da lógica do poder, que o homem é feito para outra coisa, para a verdade, e a verdade sempre tem a ver com liberdade e justiça.
Ontem como hoje, quando a verdade é posta à morte, ela renasce de suas cinzas e caminha para frente.
Os profetas, se mortos, não morrem, eles se tornam ainda mais fortes.
Texto extraído das Homílias de Pe. Paolo Scquizzato
Cumulou de bens os famintos,
e despediu de mãos vazias os ricos.