Uma congregação sob medida

Natalia Maccari, fsp

Facebooktwitterredditpinterestlinkedinmail

Os testemunhos vocacionais que li ou ouvi são sempre dinâmicos, estimulantes, narram um caminho de expectativas, desejos combates, inquietações ocultas ou manifestas. Esses testemunhos são emocionantes e chamam atenção. Sinto que a minha é uma história simples, a de uma pessoa “nascida com a vocação”. A vida religiosa já estava no meu DNA.

Desde pequena, com cerca de três anos, eu me distraía folheando revistas, que em minha família sempre eram religiosas, e certo dia, quando estava numa página com fotos de freiras, fiquei parada, não ia adiante. Então me perguntaram: o que você gosta nesta página? Apontei com o dedo para a foto da freira e disse: “Quero isso”. Não sei se foi o hábito dela que me impressionou, só sei que essa foto me atraía e, de alguma forma, se tornou um sinal para mim. A ideia de ser freira era clara dentro de mim e eu tinha certeza que essa seria minha vida. Não pensava em mais nada, nada mais me atraía com tanta força. No entanto, tive dificuldades para encontrar uma Congregação e, nesse ponto, tive alguns problemas:

  1. O fato de deixar minha família para sempre era algo que eu não podia pensar, enquanto o testemunho das freiras que eu conhecia era precisamente esse: deve-se deixar a família.
  2. Eu não tinha inclinação para trabalhar em hospitais e a maioria das irmãs de minha região realizava esse apostolado.
  3. Meu desejo era ensinar as coisas de Deus, falar sobre Jesus, mas as freiras que eu conhecia não tinham essa missão específica.
  4. Além disso, eu era uma leitora fanática, apaixonada por livros e as freiras conversavam comigo sobre escolas, preparação, mas não falavam explicitamente dos livros.

O que fazer? Eu tinha apenas dez anos, mas a pressa me incentivava e eu queria decidir o mais rápido possível. Eu também podia renunciar algo, mas querer ensinar as coisas de Deus e ajudar as pessoas era seguramente a coisa que mais eu queria.

E Deus, que me acompanhava em minhas “fixações”, enviou a Congregação certa à minha casa. Não a procurei eu, foi a Congregação que me procurou.

Um dia, sem aviso prévio, sem esperar, duas primas, Ester e Tarcila, que eu não conhecia, vieram visitar-nos e falaram das Filhas de São Paulo. Elas me disseram exatamente o que eu sentia e também queria. Não era necessário pensar e refletir por mais tempo, como diz um famoso provérbio: a comida se encontrou com o desejo de comer.

Quando minhas primas me disseram que a missão da Congregação delas era a de comunicar a mensagem de Jesus com os meios de comunicação social, que faziam livros, revistas etc. minha alegria chegou ao auge. Pois eu também fazia livros de catequese. De fato, minha mãe era catequista, e nem todas as crianças tinham o livrinho de catecismo. Então tive a ideia: por que não fazer eu mesma os livros? Na época, eu ainda não sabia o que eram os direitos autorais. Na minha casa havia a máquina Royal de escrever e eu mesma consegui resolver o problema. Essa foi minha primeira experiência editorial. Transcorria as tardes fazendo cópias do Pequeno catecismo da doutrina cristã para dá-lo às crianças.

O encontro com Ester e Tarcila me fez descobrir que eu poderia ser freira para fazer exatamente isso. Poderia realmente ir a um instituto que tivesse máquinas para fazer livros e revistas? Falar de Jesus em programas de rádio? Eu estava no auge de alegria.

Tudo isso aconteceu nos anos 50, quando eu tinha apenas dez anos e só se podia entrar na Congregação após completar doze anos. Minha mãe estava feliz, mas meu pai não concordava. Após algum tempo, porém, ele se convenceu e me deixou ir, pois todos lhe diziam: “Ela volta depois de uma semana”.

Naquela época, eu não sabia o que me esperava na vida religiosa. De fato, os primeiros meses foram terríveis, chorava todos os dias de saudades e lembro-me de ter escrito várias cartas, pedindo a meus pais que viessem me buscar. Estava surpresa, pois eles respondiam, mas não falavam em vir me buscar. Após seis meses, quando vieram me visitar, disseram-me que nunca haviam recebido meus pedidos de voltar para casa. Muitos anos depois, quando eu mesma fui envolvida na formação, soube que as mestras liam as cartas das aspirantes antes de enviá-las e, conhecendo as reações dos primeiros meses, faziam adaptações inteligentes para o bem da jovem vocação. E graças a essa astúcia de minhas mestras, minha vocação foi salva.

Por experiência pessoal, posso dizer que a vocação é um presente que cresce e amadurece dia após dia. Há períodos claros, quando Deus nos visita com suas surpresas de amor, e há períodos mais sombrios quando Ele brinca de esconde-esconde; para nos fazer crescer num relacionamento mais profundo e pessoal com Ele. Estou convencida de que a vocação paulina é maravilhosa e tem todos os componentes para tornar-nos humanas e espiritualmente realizadas. Se eu tivesse que recomeçar de zero, repetiria exatamente o mesmo caminho, fazendo apenas algumas correções no primeiro rascunho. Em todos esses anos, além das muitíssimas alegrias, realizações, conquistas, desafios e maravilhosas aventuras apostólicas, houve também crises, dificuldades, momentos difíceis, mas nunca duvidei de minha vocação. Quem previu que eu só ficaria no convento uma semana perdeu a aposta.

Talvez eu tenha decepcionado a muitos, exceto Deus e minha mãe!

Natalia Maccari, fsp


Allegati