Vida religiosa e novas mídias: estar em relação ou estar conectados?

Facebooktwitterredditpinterestlinkedinmail

A vida religiosa é sempre um espelho das mudanças que ocorrem em nível social: as comunidades religiosas são microcosmos ao interno dos quais, as pessoas que entram na vida religiosa, trazem não só a bagagem que acumularam na vida anterior, mas também o material que recebem dos contatos com o mundo externo. A comunidade religiosa se redescobre administrando os estímulos que lhes chegam ao seu interior por meio de seus membros. Nos últimos anos, grande parte desse material foi mediada com os novos meios de comunicação: celulares, internet, e-mail, redes sociais.

Uma pessoa, quando entra na vida religiosa, tem ainda um considerável trabalho a fazer sobre si mesma em nível psicoafetivo e espiritual. É necessário, por isso verificar se os tempos e os espaços oferecidos pelas interações reais são suficientes ou são progressivamente substituídos pelas conexões virtuais.

Além dos riscos a serem observados, os problemas que os novos meios de comunicação levantam em sua rápida difusão e uso imediato são a meu ver, antes de tudo, de caráter antropológico e educativo e poderiam ser vistos na distinção entre o superficial “estar conectados” e o profundo “estar em relação”. O risco é que o superficial se torne a norma e o profundo incomum. Cuidar dessa diferença torna-se vital para a qualidade das relações ao interno da comunidade e da vida religiosa.

É inevitável que na vida religiosa aumente progressivamente aquilo que, em geral, acontece no mundo secular: grande parte da vida acontece online. É próprio da imagem da rede dar-nos a oportunidade de uma reflexão mais espiritual.

O elemento sobre o qual refletir, partindo do ponto de vista espiritual, é aquele que nos leva à rede. O desejo de comunicação, que muitas vezes, assume a forma de um desejo de amizade, não pode ser compreendido apenas à luz do desenvolvimento das novas tecnologias. Expressa um desejo de relação enraizado na natureza humana.

A comunhão só é possível se a comunicação for ativa. O desejo de conexão não é, portanto, uma forma simplesmente moderna de relação, mas é a expressão externa de uma profunda necessidade humana. No entanto, é importante aproveitar esse desejo de conexão para ajudar-nos a descobrir a identidade mais profunda e mais divina que está em nós.

A questão que estamos enfrentando como religiosos hoje, não é simplesmente a de usar e como usar os novos meios, mas a de perceber em que tempo estamos vivendo e somos chamados a anunciar o Evangelho. A diferença entre as duas modalidades, ou seja, a de estar conectados e a de estar em relação, pode expressar algo sobre nós mesmos, mas especialmente sobre o espírito da época que estamos vivendo.

É importante interrogar-nos se é possível e como integrar o uso das novas tecnologias comunicativas ao interno da vida religiosa. Visto que a vida religiosa é chamada a desenvolver um sério papel educativo, isto é, o de ser modelo para outros, é necessário que o religioso se questione sobre o impacto do uso dos novos meios de comunicação na própria vida consagrada. As vantagens e os recursos que as novas tecnologias oferecem são inegáveis também no que diz respeito ao anúncio do Evangelho. O compromisso do crente, e em particular do religioso, é não comprometer a qualidade da própria vida relacional, mas a de salvaguardar a empatia, a responsabilidade e o cuidado do outro. No contexto da vida comunitária isso quer dizer que não devemos substituir a própria comunidade, na qual há inevitáveis esforços e incompreensões, por uma comunidade virtual, que certamente seria mais gratificante porque é uma comunidade que pode ser desligada quando estamos cansados ou ocupados com outras coisas. Mas a comunidade virtual, mesmo sendo um lugar onde podemos anunciar o Evangelho, não é uma comunidade que nos faz crescer. A comunidade virtual pode informar-nos, mas não converter-nos. A conversão passa pelo empenho do encontro. Este é o coração do Evangelho.

Padre Gaetano Piccolo, SJ

* Resumo feito por SICOM fsp autorizado pelo autor


Allegati